3 de jun. de 2011

Educação

O Brasil é um país de contrastes, possui uma complexa realidade social, onde de um lado há pessoas que vivem em situação de plenos direitos sociais e políticos, que são patrocinados pelo poder econômico, tendo boas, senão ótimas, condições de moradia, estudo, saúde e qualificação para o mercado de trabalho. De outro lado, porém há miséria e ausência parcial ou total da consciência de direitos, bem como a efetivação dos mesmos.
Essa diferença social é própria do capitalismo, que coloca em situações diferentes os que detêm o capital e os que trabalham para produzi-lo em uma equidade quase que neoliberal.

Em países em desenvolvimento como o nosso, as condições de vida e de trabalho condenam grande parte dos trabalhadores a uma situação de miséria absoluta, vivendo abaixo da linha da pobreza. O capitalismo se estrutura desde o seu aparecimento, na exploração do trabalho assalariado, que progressivamente foi separando os trabalhadores, o proletariado, dos donos dos meios de produção, a burguesia. Variam as condições de vida das duas classes, assim como os anos de estudo que os indivíduos de uma e outra conseguem.

A classe de maior renda dispõe de maior escolaridade e de maior acesso aos bens culturais. A de menor renda, com baixa escolaridade, na sua maioria dispõe de pouco ou nenhum acesso a esses mesmos bens culturais.
Poder é saber e saber é poder, relação que é perpetuada pelo privilégio de estudar e concluir que os que detêm o poder possuem. Quadro este, que a sociedade capitalista podemos analisar e discutir as razões que impossibilitam a realização desse direito.
No modelo econômico adotado, o sistema educacional não é prioridade, nem foi estruturado para atender, com qualidade, a grande maioria da população. As classes de maior renda aproximam-se dos níveis de consumo e de conforto atingidos pelas classes ricas dos países desenvolvidos. Para que isso seja possível é necessário que as classes trabalhadoras paguem a conta seja por assumirem a produção com baixos salários, seja por estarem sem condições de consumo, o que economiza bens para exportação, sem causar prejuízos para os donos de produção.

O estado brasileiro tem atuado para que esta maneira de organização social prevaleça. O modelo de desenvolvimento assumido nos últimos trinta anos tem beneficiado o grande capital, sendo os gastos com educação, saúde, transporte do trabalhador, menores, comparativamente, do que aqueles destinados a manutenção desse modelo de economia e de sociedade.
Essa é a sociedade que temos, capitalista, onde a educação (que abre portas) não é oferecida, nem oportunizada igualmente à população (o que fecha portas), causando uma cadeia de desigualdade infindável.
A escola tem grande peso na aceitação conservadora das idéias liberais, nas quais o capitalismo se apóia para se justificar.
Essas idéias liberais formam o liberalismo, uma doutrina político-econômica que teve sua força máxima durante a Revolução Francesa em 1889 e chegou ao Brasil na época de Tiradentes, quando a realidade vivida era contraditória à política liberal.

No liberalismo os direitos dos indivíduos são naturais, independentes de sociedade. De acordo com Locke (um dos maiores pensadores do liberalismo séc. XVIII), a origem do governo estava em acordo realizado entre os homens, para garantir a cada um os direitos naturais, cabendo ao governo garantir a cada um o desenvolvimento de seus talentos. Assim, a pobreza ou a riqueza depende da vontade e da capacidade de cada um.
Acredita-se também que o progresso de cada um pode, isoladamente, levar à melhoria da sociedade e essa melhoria é de responsabilidade individual, independentemente das condições econômicas e sociais que compõem a comunidade.

Para o liberalismo, quando menor for o poder do Estado, maior será a liberdade do indivíduo. Esta propriedade é um direito que cada um tem e o que o Estado deve proteger. O privilégio decorrente do nascimento deve ser negado. O trabalho e o talento são os meios corretos para enriquecer, então a existência de ricos e pobres é natural, uma vez que os homens não são igualmente esforçados ou talentosos.

A democracia é estabelecida pela escolha de um representante, através do qual acredita-se participar do governo.
Ao colocar um indivíduo como centro, o liberalismo torna individuais as razões do fracasso, econômico ou escolar, impedindo que sejam vistas as razões sociais da desigualdade, servindo aos conservadores para manter a sociedade como está, com a sobrevivência da maioria das pessoas condicionada ao trabalho assalariado, a par da minoria burguesa que vive da exploração do capital e do trabalho.

Neste ponto se a escola for sustentada por princípios individualizantes, pela classificação e pela avaliação acaba por rotular os indivíduos como capazes ou não, segundo o aproveitamento de cada um, deixando de ver o aluno como ser social e histórico. Agindo assim a escola se isola da sociedade, reproduz a igualdade formal do sistema social, iguala todos perantes a lei, embora vivam em profunda desigualdade de condições.
Essa escola não discute, não revê conteúdos, nem a possibilidade concreta de democracia e de representação em uma sociedade marcadas pelas desigualdades de propriedade e de direitos. As famílias se tornam responsáveis pelo fracasso de seus filhos e argumentam que o filho é que “não dá para o estudo”.

A sociologia tenta explicar a sociedade que surgiu com o capitalismo e serve muitas vazes para justificar esse sistema político, econômico e social.
Devíamos ter uma sociedade que não aceitasse as teorias como verdades absolutas, analisando as contradições sociais, com o cuidado de conservar a sociedade em um sentido de continuidade, não de mesmice.
Não podemos nos alienar,devemos conhecer os papéis assumidos pelo conjunto das instituições na sociedade capitalista, já que esta sociedade não se explica apenas a parti de atitudes ou de comportamentos restritos à esfera econômica.
Entender a sociedade em que se vive é o primeiro passo para encontrar soluções para os problemas enfrentados.

Com base no texto “Educação e sociedade: redenção, reprodução e transformação” de Luckesi (in filosofia da educação, São Paulo: Córtex, 1994) podemos afirmar que existem três grupos de entendimento do sentido da educação como redenção, educação como reprodução e educação como um meio de transformação da sociedade; tendências estas que se constituíram ao longo da prática educacional.
A educação como redenção da sociedade visa manter e conservar a sociedade, integrando harmonicamente os indivíduos no todo social já existente. A educação seria, assim, uma instância quase que exterior à sociedade, pois, de fora dela, contribui para o seu ordenamento e equilíbrio permanentes; tentos, portanto, como finalidade a adaptação do indivíduo a sociedade.

A educação como reprodução da sociedade afirma que a educação faz parte da sociedade e a reproduz, portanto aborda-a como uma instância dentro da sociedade e exclusivamente a seu serviço. Atua sobre ela como uma instância correta dos seus desvios, tornado-a melhor e mais próxima do modelo de perfeição social, harmônica e idealizada.
A educação como transformação da sociedade, tem por perspectiva compreender a educação como mediação de um projeto social. Ou seja, não redime, nem reproduz a sociedade, mas serve como um dos meios para realizar um projeto de sociedade, seja ele conservador ou transformador. Essa tendência não coloca a educação a serviço da conservação.
Importa, portanto, notamos que essas tendências educacionais supra citadas se fazem presentes ainda hoje.

A tendência redentora, propõe uma ação pedagógica otimista, do ponto de vista político, acreditando que a educação tem poderes sobre a sociedade. A reprodutivista é ao mesmo crítica (em relação à compreensão da educação na sociedade) e pessimista (pois não vê saída para ela, além da submissão a seus condicionantes). A transformadora é critica e recusa-se e ao otimismo ilusório bem com ao pessimismo imobilizador propondo a compreensão da educação estratégica para a transformação.

A educação que gostaríamos que existisse é baseada nesta tendência transformadora, pois como afirmamos acima é critica, não salva, nem reproduz a sociedade, mas é utilizada como um meio para a efetivação de uma concepção e sociedade. Propõe ainda, desvendar e utilizar-se das contradições da sociedade, para transformá-la realmente.

A educação transformacional deve preocupar-se em desenvolver competências, os conteúdos deixam de um fim em si mesmos, o professor, de transmissor do conhecimento passa a facilitador da aprendizagem; a prática avaliativa, de classificatória e excludente se transforma em instrumento para guiar intervenções pedagógicas e o aluno, antes passivo vira participante, ativo na construção do próprio aprendizado.

O uso de uma pedagogia crítica pode ser um elemento modificador e transformador da realidade escolar, vivenciando uma experiência educacional nessa direção, espera-se que o estudante como sujeito ativo, capaz de resolver problemas de ordem pessoal e de participar de todas as esferas da vida pública possa transformar a sociedade.

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